Julgando-se ameaçado pelo governo da Bolívia, o senador Roger Pinto Molina, líder da oposição ao presidente Evo Morales, buscou a proteção da bandeira brasileira. Pediu socorro à embaixada do Brasil em La Paz e endereçou uma carta a Dilma Rousseff. Onze dias depois, em 8 de junho de 2012, recebeu uma boa notícia: a presidente brasileira concedera-lhe o asilo político. Evangélico da igreja Batista, Roger Molina dirigiu palavras de agradecimento a Deus. Desde então, mastiga o pão que Satanás amassou.
Roger Molina amargou 452 dias numa sala da embaixada brasileira à espera de um salvo-conduto que o governo de Evo Morales se negou a emitir. Desovado clandestinamente no Brasil em agosto passado pelo diplomata Eduardo Saboia, que organizou uma fuga cinematográfica de 22 horas, o senador boliviano aguarda há quatro meses pela confirmação do asilo que o fizera dar graças a Deus há um ano e meio. Sem resposta, ele mora de favor em Brasília, num quarto de empregada do apartamento funcional do senador Sérgio Petecão (PSD-AC).
“Nem sei se é legal dar abrigo a ele. Tomei a iniciativa porque o cara não conhece ninguém”, afirma Petecão. “Além disso, o governo brasileiro não legalizou a situação dele, mas também não expulsou o Roger do país. Em algum lugar ele tinha que ficar!” Até quando? No momento, essa resposta depende do posicionamento do Comitê Nacional para os Refugiados, o Conare, órgão do Ministério da Justiça.
Há uma semana, o advogado brasileiro que zela gratuitamente pelos interesses de Roger Molina, Fernando Tibúrcio Peña, encontrou-se por acaso com o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça). Trombou com ele no Rio, na festa de casamento da filha de um amigo comum, o advogado e ex-deputado petista Sigmaringa Seixas. Rogou que desse atenção ao caso do seu cliente. O ministro limitou-se a dizer que o Conare julgará o pedido “em breve”.
Segundo Fernando Tibúrcio, a situação financeira de Roger Molina é precária. “Ele tinha umas 500 cabeças de gado na Bolívia. Já 'comeu' praticamente tudo”. Além do bolso, definha o ânimo do senador boliviano. “Ele está deprimido”, afirma Petecão, o anfitrião. “Eu fico em Brasília de terça a quinta. Mas peço ao meu filho, o Serginho, que estuda na cidade e também mora comigo, para observar o Roger.''
Desde que chegou ao Brasil, há quatro meses, Roger Molina engordou cerca de cinco quilos. A convite de Petecão passou a acompanhá-lo em caminhadas matinais ao redor da quadra onde está assentado o edifício de apartamentos funcionais do Senado. No mais, só deixa o apartamento de raro em raro. “Ele dorme mal no quarto de empregada, mas usufrui de todo o imóvel de dia”, Petecão esclarece. “Passa horas na internet, acompanhando o noticiário sobre a Bolívia num tablete.”
No sábado passado, contrariando os conselhos de Petecão, Roger Molina viajou para o Acre. Presenteado com uma passagem aérea, foi passar o Natal com a família. A mulher, Blanca Inez Pinto, três filhas e dois netos se autoexilaram na cidade acreana de Epitaciolândia. Fica a uma ponte de distância da província boliviana de Cobija, do outro lado da fronteira.
“Fui contra a ida dele para o Acre porque tenho informações que me chegam dos amigos”, diz Petecão, em timbre enigmático. “A vida do Roger corre risco.” Foi para atenuar os supostos riscos que o anfitrião de Roger Molina achou melhor trazer os familiares para a capital, Rio Branco. Alojou-os num sítio, para que Roger Molina pudesse usufruir-lhes a companhia sem o risco de ser capturado na fronteira e arrastado para o lado boliviano.
A demora na análise do pedido de asilo fez de Roger Pinto um personagem envergonhado. “Quando ele saiu para viajar, me disse que estava com vergonha de estar aqui no apartamento”, confidencia Petecão. “Eu disse: da minha parte, não tenha cerimônia, você vai ficar aqui quanto tempo precisar. Ele me disse que volta depois do Ano Novo”. Que, no seu caso, chega enganchado a uma velha interrogação: até quando o governo companheiro vai tremer diante de Evo Morales?
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